Foi decidido pela FIFA que os jovens futebolistas não devem estar vinculados aos clubes antes dos 14 anos. Esta lei desportiva está assente em princípios fundamentais que protegem, e bem, a liberdade de escolha por parte dos pais em decidir qual o clube que melhor serve o interesse dos seus filhos. Actualmente, e ao contrário do que sempre sucedeu, os clubes são obrigados a libertar os seus atletas dos escalões mais baixos se os pais assim o desejarem. Até aqui parece que tudo está perfeito. Como em qualquer outra lei existem os prós e os contras, apesar de todos os clubes entenderem que esta lei os prejudica pelo facto de investirem 3 ou 4 anos na formação de atletas que, posteriormente, podem sair a custo zero, eu ainda assim penso que os tais princípios fundamentais que referi acima devem prevalecer.
No entanto, aquilo que se tem verificado é que, à boa maneira portuguesa, quando uma nova lei é imposta, aparecem logo no dia seguinte formas alternativas de se obter benefícios por outras vias. Estas formas legais de actuação que se regem pelas vulgares intervenções à “Chico-esperto” têm atingido proporções absolutamente degradantes, muito embora “a procissão ainda vá a meio”. Com efeito, temos assistido a um aproveitamento imoral dos sonhos de crianças e adultos que facilmente são influenciados por pessoas com intenções bastante duvidosas.
Tenho assistido nos últimos dois anos a um assalto em grande escala de vários prospectores de jovens talentos que surgem como ervas daninhas que atacam os jardins mais floridos e harmoniosos. Estes “profissionais da bola” que exibem orgulhosamente os seus emblemas mais ou menos bonitos existem às centenas e cobrem todo o território nacional. A prospecção de jovens está neste momento a tornar-se num mercado de enorme potencial que, como em qualquer ramo de actividade que ofereça novas oportunidades de negócio, começa numa fase inicial por ser invadido por meros angariadores que rapidamente se tornam demasiado competitivos com objectivos a cumprir e acabam por se especializar em vencer a concorrência sem qualquer tipo de preocupação ética ou moral. Quando falo em angariadores está subjacente a idéia de existir um produto que, infelizmente, são crianças entre os 7 e os 12 anos. A estas crianças e pais são, precocemente, incutidas uma série de ilusões que, invariavelmente, serão mais tarde abruptamente desfeitas para praticamente todos os que nelas se deixaram envolver. Entretanto, podem ter deixado pelo caminho muitos sacrifícios e opções de vida que acabam por ser, em muitos casos, factor de profundo arrependimento.
Este fenómeno recente tem sido catapultado por vários clubes e emblemas que ainda assim diferem uns dos outros. Sem mencionar nomes arrisco a diferenciar todos aqueles que actuam a 300 kilómetros de distância daqueles que se fazem representar a uns meros 300 metros. Estas diferenças são efectivamente relevantes no que toca à gravidade do problema. Gostaria de distinguir os predadores eficazes dos abutres famintos, deixando portanto, à consideração de todos, saber escolher com quem, quando e onde as crianças destas idades poderão ser mais felizes.
As próprias associações distritais de futebol são também cúmplices deste problema porque já deviam, há muitos anos, ter remodelado os seus campeonatos oficias de futebol. Eu defendo que os grandes clubes não podem absorver 100 atletas do mesmo escalão porque lhes é permitido inscrever 4 ou 5 equipas da mesma faixa etária em séries diferentes. Esta possibilidade origina que sejam, por alguns clubes, contratados 40 ou 50 novos atletas de todo o país, nem que para isso os pais sejam obrigados a fazer 600, 700 ou até mesmo 1.000 km todos os sábados para os seus filhos jogarem num clube que mais tarde apenas poderá aproveitar um ou dois desses atletas para os escalões de formação mais elevados. Eu defendo que seja apenas permitido a um clube inscrever uma equipa oficial por ano de nascimento (1 série exclusiva para atletas com 8 anos, outra para 9, 10, 11 e 12 anos, respectivamente).
Em suma, e porque este assunto me preocupa, não só por trabalhar numa escola de futebol, mas porque também sou pai, assim como gosto de todas as crianças com quem trabalho e espero para todas elas uma infância feliz e adequada, deixo aqui este aviso que, apesar de poder ser subjectivo e talvez até ambíguo, possa servir de ponto de reflexão.
Marco Barbosa
(3 de Abril de 2008)
No entanto, aquilo que se tem verificado é que, à boa maneira portuguesa, quando uma nova lei é imposta, aparecem logo no dia seguinte formas alternativas de se obter benefícios por outras vias. Estas formas legais de actuação que se regem pelas vulgares intervenções à “Chico-esperto” têm atingido proporções absolutamente degradantes, muito embora “a procissão ainda vá a meio”. Com efeito, temos assistido a um aproveitamento imoral dos sonhos de crianças e adultos que facilmente são influenciados por pessoas com intenções bastante duvidosas.
Tenho assistido nos últimos dois anos a um assalto em grande escala de vários prospectores de jovens talentos que surgem como ervas daninhas que atacam os jardins mais floridos e harmoniosos. Estes “profissionais da bola” que exibem orgulhosamente os seus emblemas mais ou menos bonitos existem às centenas e cobrem todo o território nacional. A prospecção de jovens está neste momento a tornar-se num mercado de enorme potencial que, como em qualquer ramo de actividade que ofereça novas oportunidades de negócio, começa numa fase inicial por ser invadido por meros angariadores que rapidamente se tornam demasiado competitivos com objectivos a cumprir e acabam por se especializar em vencer a concorrência sem qualquer tipo de preocupação ética ou moral. Quando falo em angariadores está subjacente a idéia de existir um produto que, infelizmente, são crianças entre os 7 e os 12 anos. A estas crianças e pais são, precocemente, incutidas uma série de ilusões que, invariavelmente, serão mais tarde abruptamente desfeitas para praticamente todos os que nelas se deixaram envolver. Entretanto, podem ter deixado pelo caminho muitos sacrifícios e opções de vida que acabam por ser, em muitos casos, factor de profundo arrependimento.
Este fenómeno recente tem sido catapultado por vários clubes e emblemas que ainda assim diferem uns dos outros. Sem mencionar nomes arrisco a diferenciar todos aqueles que actuam a 300 kilómetros de distância daqueles que se fazem representar a uns meros 300 metros. Estas diferenças são efectivamente relevantes no que toca à gravidade do problema. Gostaria de distinguir os predadores eficazes dos abutres famintos, deixando portanto, à consideração de todos, saber escolher com quem, quando e onde as crianças destas idades poderão ser mais felizes.
As próprias associações distritais de futebol são também cúmplices deste problema porque já deviam, há muitos anos, ter remodelado os seus campeonatos oficias de futebol. Eu defendo que os grandes clubes não podem absorver 100 atletas do mesmo escalão porque lhes é permitido inscrever 4 ou 5 equipas da mesma faixa etária em séries diferentes. Esta possibilidade origina que sejam, por alguns clubes, contratados 40 ou 50 novos atletas de todo o país, nem que para isso os pais sejam obrigados a fazer 600, 700 ou até mesmo 1.000 km todos os sábados para os seus filhos jogarem num clube que mais tarde apenas poderá aproveitar um ou dois desses atletas para os escalões de formação mais elevados. Eu defendo que seja apenas permitido a um clube inscrever uma equipa oficial por ano de nascimento (1 série exclusiva para atletas com 8 anos, outra para 9, 10, 11 e 12 anos, respectivamente).
Em suma, e porque este assunto me preocupa, não só por trabalhar numa escola de futebol, mas porque também sou pai, assim como gosto de todas as crianças com quem trabalho e espero para todas elas uma infância feliz e adequada, deixo aqui este aviso que, apesar de poder ser subjectivo e talvez até ambíguo, possa servir de ponto de reflexão.
Marco Barbosa
(3 de Abril de 2008)
Nenhum comentário:
Postar um comentário